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No nosso perfil do Instagram, nós postamos algumas reflexões sobre o encontro entre os campos da História Pública, a história que circula fora das universidades, e da História da Moda. Mencionamos uma série de textos complementares e, agora que temos esse espaço aqui, podemos disponibilizar os links e alguns comentários extras para vocês.
Vamos lá?
Se você não viu o post, clique aqui. A gente recomenda que antes de continuar, ou depois que terminar de ler aqui, você vá lá ver o conteúdo completo 😉
DESAFIOS DA PUBLIC HISTORY
No segundo semestre de 2014, nós duas fomos alunas do Dr. Jurandir Malerba no Programa de Pós-Graduação da PUCRS. O artigo que inspirou nossa postagem tinha sido publicado havia pouco e, desde aquela época, tem nos feito pensar em muitas coisas. O texto completo está disponível no link abaixo:
Atualmente o historiador integra o departamento de História da UFRGS e lançou, em 2020, o livro “Brasil em projetos: história dos sucessos políticos e planos de melhoramento do reino: da ilustração portuguesa à Independência do Brasil“.
Talvez alguns leitores de História da Moda já tenham encontrado o nome dele antes, como um dos organizadores do livro “Festas Chilenas: sociabilidade e política no Rio de Janeiro no ocaso do Império“, ao lado das pesquisadoras do Arquivo Nacional Dra. Cláudia Beatriz Heynemann e Dra. Maria do Carmo Teixeira Rainho – a última bastante conhecida entre os estudantes de moda, e autora do oitavo capítulo da coletânea.
Além disso, foi mencionado em dois artigos sobre Historiografia de Moda, escritos por Natália Santucci – também conhecida como co-fundadora do Costura & Texto 😉
Historiografia de Moda-Um Levantamento da Produção Acadêmica em São Paulo – Moda Documenta, 2015
HAMILTON NÃO É APENAS UM MUSICAL
Em 2016, a Dra. Lyra D. Monteiro, da Rutgers University, sofreu diversos ataques verbais por ter apresentado alguns contrapontos envolvendo a questão racial no musical Hamilton. Cabe dizer que refletir criticamente sobre um conteúdo não é impedimento para apreciá-lo, simplesmente é importante para não criar uma confusão entre fato e representação.
A autora aponta que é imensamente positivo ver atores negros protagonistas de um grande sucesso na Broadway, mas que não se pode esquecer do problemático enaltecimento à fundação dos Estados Unidos, calcada em escravidão e suprematismo branco.
A resenha e a resposta às criticas podem ser vistas aqui (ambas em inglês):
It’s not “just a musical” (10.06.2016)
Clique para ler a matéria de Dawn Chmielewski para a Forbes (09.06.2020):
“Hamilton”, de Lin-Manuel Miranda, se torna uma das peças mais lucrativas da Broadway
FIGURINOS DE ÉPOCA NÃO SÃO TRAJES HISTÓRICOS
Talvez a diferença não seja tão óbvia assim. Resumindo muito: trajes cênicos são pensados para cumprir uma função estética e narrativa, para ambientar os personagens em um espaço e um período, e nos mostrar um pouco da personalidade daquela figura. Roupas históricas são as peças que sobreviveram à ação do tempo e, normalmente, estão preservadas em uma coleção.
Por mais fiel a uma época que um figurino seja, ele sempre vai contar com características contemporâneas, seja em suas cores, formas, materiais, técnicas de confecção, compreensão histórica dos produtores, e assim por diante. Um caso muito interessante para exemplificar isso são os figurinos da série The Crown – algumas peças são quase réplicas de roupas realmente utilizadas pela monarquia britânica, enquanto outras são inteiramente novas, inspiradas no vestuário da época retratada.
Abaixo, as matérias que consultamos:
Transcrição do discurso de Sandy Powell no Oscar de 2010 (em inglês)
Deveria a Netflix alertar que ‘The Crown’ não é real? (Tom C. Avendaño, 06.12.2020)
Nunca soubemos nada de Chernobyl, nem como as pessoas se vestiam (Anabel Vázquez, 03.06.2019)
A Zara tira de circulação uma blusa acusada de evocar o Holocausto (Cristina Delgado, 27.08.2014)
SOBRE FAKE NEWS E HISTÓRIA
De acordo com Dr. Bruno Leal, as notícias falsas “apresentam-se como notícias propriamente ditas, alertas salvadores e até mesmo como história”. Professor do Departamento de História da UNB, e fundador do Café História, publicou no site uma lista com dez títulos “que podem ajudar o leitor a ter uma visão histórica das fake news”:
Fake News na história: uma bibliografia comentada (21.12.2020)
Clique aqui para ler na Forbes: 12 países com maior exposição a fake news (25.06.2018)
Por fim, durante a pesquisa para complementar a postagem, nos chamou atenção uma matéria iniciada pela acusação de que a história não admite métodos rigorosos.
Claramente, a jornalista que escreveu desconhece os diversos métodos científicos utilizados por historiadores, inclusive para analisar discursos e não cair em “fake news” do passado. Na tentativa de embasar sua opinião, cita o historiador François Dosse, o semiólogo Umberto Eco e o escritor George Orwell – ironicamente, de uma forma descontextualizada, que não seria aceita na História.
É lamentável ver toda uma classe profissional ser atacada indistintamente, como se o exercício da profissão fosse mero charlatanismo.
Se as histórias humanas pudessem ser contadas de maneira definitiva, não haveria mais a necessidade de pesquisa e crítica histórica – é justamente por isso que nós existimos, para observar as narrativas do passado e tentar preencher lacunas, identificar equívocos de análise, atualizar com descobertas recentes.
A autora do artigo* poderia muito bem entrar para o clube da “nova história” que, ao tentar deslegitimar historiadores profissionais, aparentemente só se relaciona mesmo com um tipo de novo – o NEOliberalismo.
* o nome foi omitido pois, além de não desejarmos fazer um ataque pessoal à jornalista em questão, algoritmos de buscas não distinguem apoio e discordância, e uma menção poderia dar mais visibilidade ao texto equivocado publicado por ela.
Imagem em destaque: Elenco das primeiras temporadas de The Crown, Julian Broad / Vanity Fair